Pequena reflexão sobre liberdade e propósito

 
Será que é fácil encontrar nossa utilidade diante das dificuldades do mundo? Eu acho que isso se encaixa um pouco com o propósito de nossas vidas, já que o propósito é algo que dá sentido à nossa existência, se não for assim, para que estamos nesse mundo? Apenas para sofrer, como dizem muitos que não conhecem a Deus? Ou algo mais nos prende a essa matéria frágil e cheia de defeitos por um tempo até sermos chamados de novo?

Viver é apenas, nascer, aprender algumas coisas, comer, crescer, interagir com os outros, procriar, envelhecer e morrer? E depois? Para onde iremos? (Bom, essa já é uma outra questão) Aqui vamos conversar um pouco sobre o propósito e sua coerência com minha fé.

Eu acredito que todo mundo tenha um propósito para estar vivo, temos que de alguma maneira fazer a diferença no mundo, mesmo que a gente passe uma vida inteira sem achar nosso propósito, ele existe e está escondido no nosso DNA (não exatamente, o biológico). Acredito que só é plenamente feliz quem consegue na caminhada da vida, descobrir esse mistério, mas acredito também que só é possível encontrá-lo, descobrindo um mistério maior: descobrir quem é Deus em nossa história, pois é Ele quem vai nos auxiliar na descoberta do outro mistério: quem somos nós e qual o sentido da nossa vida.

Isso até parece uma brincadeira infinita… só conseguimos descobrir nosso propósito, encontrando quem é Deus e encontrando Deus, encontramos nosso propósito e retornamos para Deus! Não é interessante?

Tenho tentado fazer um esforço grande para descobrir qual o meu propósito, acho que passei muito tempo de maneira errante sobre a face da terra, na verdade, eu ainda acho que esteja vivendo nesse estágio, ainda que algumas coisas tenham aparecido nesse meio tempo. Ainda busco saber quem é Deus na minha vida, algumas vezes, eu desanimo um pouco nessa busca, mas existe algo tão forte lá dentro do meu coração dizendo “não desista”, que é impossível não dar ouvidos a essa voz tão forte que ecoa no meu peito. Já tentei até pensar que Deus talvez possa não existir e é tudo uma invenção do homem para controlar outros homens, que grande pecado o meu, não é verdade? E cada vez que penso nisso, acho absurdo pensar num mundo sem Deus. Ele está em tudo, na natureza ao nosso redor, na beleza da criação, na perfeição do corpo e da mente humana, na harmonia que há no universo…

Eu fico pensando que alguns homens se esforçam muito para deturpar tudo isso e nos aprisionar novamente à matéria e tirar de nós a única certeza que está dentro de nosso coração, a existência de uma mente criadora, que pensou tudo de forma perfeita e que contempla sua própria criação desvirtuando a história da Verdade.

Como venho de uma fé cristã católica, quero vivenciar todas essas coisas dentro das minhas crenças, porque é impossível se apartar do que eu acredito sem que alguém possa me provar o contrário, como até hoje ninguém foi capaz disso, continuo caminhando pela minha própria fé.

Sou o tipo da pessoa que ouve todas as pessoas, mas não tenho obrigação nenhuma de acreditar no que elas dizem, na verdade, ninguém é obrigado. Respeito todas as correntes, mas respeitar as pessoas no que elas acreditam ou deixam de acreditar não me afasta do que eu sinto, das minhas experiências, da minha fé. Então, acolher alguém que professa uma fé diferente da minha, não me obriga a misturar minha fé com a da pessoa em questão, se isso for de encontro com o que penso. Talvez, a liberdade que Deus nos deu seja isso, pode refletir que isso ou aquilo é falso ou verdadeiro e tomar a sua própria direção, sem ter que se curvar a outra opinião e deixar que o outro seja o que ele escolheu ser.

Eu vejo muita gente acreditando numa filosofia cristã e misturando-se com outras linhas, isso chega a ser contraditório… Estar a favor de Cristo e fazer militância a favor de pautas pró-aborto é contraditório. Eu apenas preciso pensar: Se Cristo estivesse aqui, nesse momento, o que Ele falaria a respeito: “Mulheres, o corpo é de vocês, escolham… matem seus filhos porque vocês não têm condições de levar essa gravidez até o final, mesmo sabendo que para se engravidar é preciso decidir fazer sexo, ou não”. Eu sei que muitas mulheres engravidam sem vontade própria, por questão de estupro, ou porque erram o método contraceptivo, mas também é verdade que se aconteceu um mal, não é com outro maior que nós resolveremos a situação. E acredito que Jesus também teria o direito de não subir naquela cruz por cada um de nós, foi um sacrifício consciente, o seu único pecado para quem o estava matando foi não estar de acordo com aqueles juízes da época, vaidosos e corruptos, que faziam tudo na base na troca de favores com o Império Romano. O próprio povo escolheu Barrabás, um revolucionário, que queria salvar o povo judeu das garras do romanos através da espada.

Jesus não queria salvar ninguém do Império Romano, ele queria algo muito mais significativo, que talvez levasse o povo a se livrar desse império, depois; Ele queria livrar o homem da ignorância a respeito da verdade. E o que era a Verdade? 

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” (João 14,6)

Quando o homem acha a verdade, ele acha também sua essência e seu propósito e isso o liberta de todos os grilhões, faz com que ele possa enxergar as maquinações que outros homens possam fazer contra si, liberta o homem de trocas vazias que o fará ser escravo de vícios e de outros reinos. Vejo que Jesus queria dar liberdade de escolha, mas parece que o homem gosta de ser escravo em troca de “espelhos”... E não é à toa que os portugueses trocaram com os índios que encontraram aqui esses objetos tão fascinantes que tira o foco do que é essencial - A verdade (o que eles queriam com essa troca? Torná-los escravos?).

Pois é… espelhos são utilizados há muitos séculos como objetos de escravidão. Até que ponto eu posso dizer que vejo a verdade se me concentro apenas em mim mesma e nas minhas vontades? A verdade que liberta é a mesma verdade que me diz que eu sou livre para fazer o que quero, mas que nem tudo é bom e que a liberdade plena é fazer o que está certo e o que é justo para mim e para o outro. Desde quanto é justo para um feto inocente ser morto porque é um empecilho para a mãe que o carrega no ventre? Desde quando essa escolha é feita porque o corpo é seu, se o corpo que você quer eliminar é outro ser humano em formação?

Essas coisas dão mesmo um nó na cabeça… Você fica pensando, e se isso acontecesse comigo? Como eu agiria? Será que eu seria feliz depois? E por que há tanta gente reforçando a tese de que a mulher é livre para fazer o que quiser com seu corpo? O que será que essas pessoas ganham com isso? Ganham dinheiro? Ganham destaque? Ganham fama? Ganham uma luta ideológica? Coloque aí seus neurônios para pensar o que há por trás da morte de alguns seres humanos indefesos.

Eu volto a uma frase clichê: E se a luta fosse contra quem mata filhotes de tartarugas? Será que nos veriam com recriminação? Por que se dá mais valor a quem defende a vida de um animal? Não que não seja certo também lutar pelos animais, mas não seria coerente dar o mesmo tratamento, no mínimo, aos dois? Ao bebê e aos filhotes de tartarugas? A quem serve a estratégia do aborto? E veja, eu não coloquei uma linha sobre política e no entanto a política está nos meandros dessa discussão. Mas, o mesmo Jesus que disse: “Eu sou o caminho a verdade e a vida.” disse; “O meu Reino não é deste mundo.” (João 18, 36) Em suma, a luta de Jesus não é pelo poder político que vemos ser disputado aqui na terra, mas pela descoberta da verdade, para que o homem seja capaz de escolher seu lado, descobrindo o que homens inescrupulosos querem fazer escondendo coisas muito importantes para uma escolha livre.

Não vejo ninguém que luta a favor do aborto, mostrando às mulheres como fica o psicológico da maioria das mães que se submetem a esse tipo de tratamento, nem dizendo que existe uma indústria voltada para essa finalidade, que recebe dinheiro demais e que silencia boa parte das pessoas com militância ideológica que para ganhar as mulheres coloca em suas cabeças que elas tem direito de escolher matar ou deixar viver, como se tivessem tomando o lugar do próprio Deus. Utiliza-se até mesmo a desculpa de que existe muita criança nos sinais, morrendo de fome, que os pais não ligam, que jogam no mundo e não cuidam… Não vejo ninguém dizendo, vamos matar essas crianças dos sinais para resolver o problema, por quê? Seria desumano? Fico pensando quão desumano é matar alguém que não pode se defender, dando à sua própria mãe o poder de lhe causar a morte. Claro que muitas mulheres são enganadas para fazer essas atrocidades, não é de forma transparente que uma mãe entrega seu filho para a morte, só pode ser levada a isso se for bem enganada a respeito das consequências, ou obrigada a isso (caso contrário, realmente é uma pessoa sem sentimento algum). Num momento de desespero muitos de nós fazemos coisas erradas. Mas, mesmo pedindo perdão, ainda assim sofremos na pele e na consciência os frutos de nossas escolhas. Não tem jeito.

Quando nossas escolhas são feitas em conjunto com Deus, através da oração, da Leitura da Bíblia (para mim que sou cristã católica), temos mais chances de escolher melhor e ter liberdade verdadeira. Jesus diz que o Espírito Santo nos orientará naquilo que é certo. E mesmo quem não é cristão, que não tem a Bíblia como livro de regras de conduta, mas que utiliza a sua liberdade de forma justa é capaz de fazer as mesmas escolhas, porque Deus nunca vai orientar algo que contraria a natureza que Ele próprio criou… A sabedoria divina nos orienta sempre pelas mesmas estradas. E acho que por hoje é o bastante para minha reflexão.

Eu busco a tua face, Senhor, para poder encontrar a Verdade e nela poder me encontrar também.


“Fala-vos meu coração, minha face vos busca;

a vossa face, ó Senhor, eu a procuro.” (Salmo 26,8)


Drica Moreira.


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